A ditadura,
as artes e a cultura
Entre a ditadura, que não foi um monolito mudando segundo as circunstâncias, e a cultura, extraordinariamente diversa no caso do Brasil e também mutante, as relações foram muito complexas.
Entre a ditadura, que não foi um monolito mudando segundo as circunstâncias, e a cultura, extraordinariamente diversa no caso do Brasil e também mutante, as relações foram muito complexas.
Em seu primeiro governo a ditadura pareceu tolerar ou
negligenciar a cultura de protesto (música, cinema, literatura, artes
plásticas) elaborada por artistas e intelectuais que, através de sua arte e de
seu humor, criticavam a censura e o regime, incentivavam a rebeldia e
denunciavam o terrorismo cultural . No momento seguinte, no entanto, no agitado
ano de 1968, embora o gênero florescesse, acirrou-se a censura e apareceram
grupos paramilitares de direita ameaçando e, às vezes, atacando manifestações
artísticas. Com o AI-5, diminuíram drasticamente, embora não fossem extintas as
margens para este tipo de arte comprometida com as lutas sociais e os programas
políticos derrotados em 1964.
Houve, contudo, manifestações culturais, outras
extraordinariamente populares que não tiveram senão problemas secundários com a
ditadura e seus censores. A Jovem Guarda e os grupos nacionais de rock’n roll,
com ritmos e temáticas que pareciam longe da dimensão política; a música
sertaneja, que preservou e aumentou sua audiência e que também frequentava
pouco as ásperas trilhas dos embates contra a ditadura; os programas
humorísticos televisivos, ouvidos e vistos por milhões de pessoas; as novelas
que, sobretudo a partir de Beto Rockfeller (o anti-herói que só queria subir na
vida), tornaram-se um ingrediente essencial da cultura popular nacional.
Ao longo dos anos 1970 e cada vez mais, a vitória do projeto
de modernização conservadora, a urbanização e a industrialização intensas do
País, a revolução nas comunicações, a integração nacional pelas redes de
televisão, entre outros fatores, iriam suscitar temáticas, abordagens e
polarizações (moderno X arcaico) que pareciam distanciar o Brasil do período
anterior ao golpe de 1964.
Neste quadro houve a possibilidade de convergências e
alianças imprevistas, como a de autores de tradição de esquerda criarem e
divulgarem seus trabalhos (novelas) através de redes televisivas notórias
adeptas do regime ditatorial, mesmo que, eventualmente, tivessem dificuldades
com a censura governamental. É que, no caso, embasavam a aliança afinidades
comuns tecidas em torno de valores modernos e progressistas, compatíveis com a
sociedade que emergia como resultado dos alucinados anos do milagre econômico.
O mesmo aconteceu com o cinema, onde a Embrafilme, agência
estatal, não se privou de financiar filmes nestas mesmas bases explorando as
relações pessoais, dramas íntimos ou as questões dos costumes, às vezes
abordadas de ângulos inovadores.
A cultura de protesto não desapareceu. Permaneceu nas
margens e tornou a aflorar nos últimos anos da ditadura, sobretudo com o fim da
censura, mas sem a relevância que fora a sua logo depois da vitória do golpe.
Mudara o País, e radicalmente ensejando no mesmo movimento a mudança dos
padrões culturais.
Autoria: Daniel Aarão Reis e Denise Rollemberg.
Autoria: Daniel Aarão Reis e Denise Rollemberg.
Fonte:
http://www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/campanha/censura-nas-manifestacoes-artisticas/
Por: Leonardo Fernandes
Por: Leonardo Fernandes
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